Inicialmente voltada para a prática esportiva, inovação poderá ser aplicada em outras áreas; com a invenção, Priscila Loschi venceu o 26° Prêmio Jovem Cientista
Apaixonada por corrida, Priscila Ariane Loschi sente na pele o quanto é importante dispor de roupas apropriadas para melhorar o rendimento físico. Desde quando ingressou no curso de Design de Produtos da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), a estudante buscava uma solução que a protegesse dos aumentos e quedas bruscas de temperatura, de modo a manter uma zona de conforto e garantir o melhor desempenho.
“Quando a temperatura do nosso corpo se altera, o desconforto é grande. Bastam três graus acima ou abaixo da média habitual (36,5ºC) para afetar nossas atividades”, esclarece a estudante.
No ano passado, depois de muitas horas de estudo e pesquisa sob a coordenação da professora da UEMG Eliane Ayres, Priscila Loschi desenvolveu um complexo polimérico a partir de fontes renováveis capaz de absorver, armazenar e liberar o calor do corpo, mantendo o conforto térmico ideal e não causando irritação quando em contato com a pele.
“A vestimenta com o complexo polimérico oferece mais conforto aos esportistas, especialmente àqueles que passam por mudanças bruscas de temperatura durante a prática, como os triatletas”, enaltece a estudante.
“Os atletas buscam por materiais que potencializem o desempenho nas atividades físicas e que tragam conforto durante a prática. Tecidos que tenham a capacidade de absorver o calor liberado pelo atleta, permitindo-lhe um maior conforto e possibilitando uma prática esportiva de melhor qualidade, estão trazendo inovação para o setor têxtil e maior ênfase no mercado”, acrescenta Priscila.
Segundo a estudante, o revestimento, incialmente desenvolvido para os mais diversos segmentos do esporte, também pode ser aproveitado em outras aplicações da indústria têxtil, como em uniformes de trabalhadores expostos a baixas ou altas temperaturas e em ternos.
Pelo seu trabalho inovador, Priscila Loschi foi a grande vencedora do XXVI Prêmio Jovem Cientista na categoria Ensino Superior e foi homenageada, no último mês, pelo governador Antonio Anastasia durante o lançamento do Programa Universidade Aberta e Integrada de Minas Gerais (Uaitec). “A jovem Priscila é um orgulho de nosso Estado. Então (o tecido), é algo muito revolucionário e único”, afirmou o governador, parabenizando a jovem pela criatividade.
Na última edição, o Jovem Cientista premiou ideias que contribuíram para os avanços tecnológicos, sociais e econômicos nas atividades esportivas. A escolha da temática esportiva vem ao encontro do momento em que o Brasil se prepara para o recebimento de grandes eventos desportivos mundiais, como a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016. O reconhecimento foi entregue a Priscila pelas mãos da presidente Dilma Rousseff.
“Ganha com esta premiação a estudante e sua orientadora, a Escola de Design, a Universidade e principalmente o Estado de Minas que demonstra estar no rumo certo em investir na ciência, na tecnologia e na educação pública de qualidade”, enfatiza o reitor da UEMG, professor Dijon Moraes Júnior.
Em entrevista à Agência Minas, Priscila Loschi fala um pouco mais sobre a tecnologia desenvolvida, suas aplicações e contribuições, além dos desafios enfrentados e do apoio da UEMG.
Sob o ponto de vista científico e tecnológico, qual foi a sua principal contribuição?
Sem dúvidas, a maior gratificação é poder contribuir para a pesquisa e a ciência e ver meu trabalho reconhecido e lido por muitas pessoas que são referências em tecnologia. Também fico feliz em poder contribuir com meu trabalho na área científica. Espero que, num futuro próximo, possa ver pessoas se beneficiando de tecidos inteligentes feitos a partir de matéria prima sustentável e brasileira.
Para você, qual foi o maior desafio deste projeto?
O maior desafio foi lidar com disciplinas diferentes às da minha faculdade, como Química, um pouco de Física e Matemática, essenciais para os experimentos. Foi uma etapa desafiadora, mas bem prazerosa. Compreender o processo de desenvolvimento da pesquisa científica também foi muito importante para que o projeto tomasse um caminho mais interessante e obtivesse um resultado satisfatório.
Já existem propostas para a comercialização do material?
Eu tive contato com uma empresa que gostaria de investir na produção do tecido para ser usado em uniforme de seus funcionários. Este contato foi importante, pois trouxe para a população uma visão mais ampla da pesquisa, entendendo que ela não está restrita ao campo dos esportes e tem, na verdade, uma abrangência muito grande de aplicações. O material pode ser aplicado em uniformes de trabalhadores expostos sob altas temperaturas por longos períodos de tempo, vestimentas do cotidiano, como ternos e roupas de trabalho, dentre outras aplicações fora do setor têxtil.
Há algum material ou tecnologia similar no mundo?
Quando iniciamos as pesquisas observamos algumas tecnologias já inseridas no mercado que possuíam função semelhante à nossa que, inclusive, serviram de referência e análise para nosso projeto. Um mês após o fechamento dos trabalhos, em julho de 2012, foi publicado na Alemanha um artigo em que o autor também desenvolve um complexo polimérico. Porém, ao contrário do ácido que nós escolhemos por ser obtido através de fontes renováveis, ele utilizou um ácido de fonte petrolífera, ou seja, não sustentável. Além de ser sustentável, ele ajuda a fixar cores nas fibras têxteis, mantendo a tonalidade do tecido.
A UEMG lhe ofereceu o apoio e a infraestrutura necessários?
A UEMG foi muito parceira na elaboração da pesquisa. Ela disponibilizou alguns equipamentos que foram utilizados na experimentação, além dos professores que foram imprescindíveis para a realização dos testes. A termografia, técnica de análise térmica, foi o grande diferencial da pesquisa. Esta técnica necessita de uma câmera especial que foi cedida pela UEMG para que capturasse as variações térmicas de um determinado corpo de prova em relação ao tempo.